Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras
arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram
hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto,
para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família.
Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles,
porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de
fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os
meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem
privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe,
flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem P algumas
palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já
não tenham.
As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que
vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos.
Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do Cê não me faça
perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto
ou abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual
nem atuante com um Cê a atrapalhar.
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