. Já chegou a reclamação injusta
da juventude
Está à rasca a geração dos pais que
educaram
os seus Meninos, numa abastança
caprichosa,
protegendo-os de dificuldades
e escondendo-lhe
as agruras da vida.
Está à rasca a geração dos filhos que
nunca
foram ensinados a lidar com
frustrações.
A ironia de tudo isto é que os jovens
que agora
se dizem (e também estão) à rasca
são os que
mais tiveram tudo.
Têm sempre dinheiro para irem aos concertos
muito caro Alguns até vão dormir junto luares
dos espetáculos para term um lugar na frente,
mesmo que percam aulase também muito dinheiro
para o futebol.
o fanatismo é tanto que preferem passar fome em
casa e darem grandes somas aos clubes de futebol.
Assim, os jogadores de são quase todos milionários,
dado o fanatismo dos seus apoiantes.
Nunca nenhuma geração foi, como esta,
tão
privilegiada na sua infância e na sua
adolescência.
E
nunca a sociedade exigiu tão pouco aos seus
jovens como lhes tem sido exigido nos
últimos
anos.
Deslumbradas com a melhoria
significativa das
condições de vida, a minha geração e as
seguintes (atualmente entre os 40 e os 60 anos)
vingaram-se das dificuldades em que foram
criadas, no antes ou no pós 1974,
e quiseram
dar aos seus filhos o melhor.
Ansiosos por sublimar as suas próprias
frustrações, os pais investiram nos seus
descendentes:
1. proporcionaram-lhes os estudos que
fazem
deles a geração mais qualificada de
sempre
(já lá vamos...), mas também lhes deram
uma
vida desafogada, mimos e mordomias,
entradas
nos locais de diversão, cartas de condução
e
1.º automóvel, depósitos de
combustível cheios,
dinheiro no bolso para que nada lhes
faltasse.
Mesmo quando as expectativas de primeiro
emprego saíram goradas, a família
continuou
presente, a garantir aos filhos
cama, mesa e roupa lavada.
2. Durante anos, acreditaram estes pais
e estas
mães estar a fazer o melhor; o dinheiro
ia
chegando para comprar (quase)
tudo, quantas vezes em
substituição de
princípios e de uma educação para a qual
não
havia tempo, já que ele era todo para
o trabalho,
garante do ordenado com que se compra
(quase) tudo. E éramos (quase) todos
felizes.
3. Depois, veio a crise, o aumento do
custo de
vida, o desemprego. A vaquinha emagreceu,
feneceu, secou.
4. Foi então que os pais ficaram à
rasca.
Os pais à rasca não vão a um concerto,
mas
os seus rebentos enchem Pavilhões Atlânticos e
festivais de música e bares e discotecas onde não
se
entra à borla nem se consome fiado.
Os pais à rasca deixaram de ir ao
restaurante, para
poderem continuar a pagar
restaurante aos filhos,
num país onde uma festa de aniversário
de
adolescente que se preza é no
restaurante e
vedada a pais.
São pais que contam os cêntimos para
pagar à
rasca as contas da água e da luz e do
resto, e que
abdicam dos seus pequenos prazeres para
que os
filhos não prescindam da internet de
banda larga
a alta velocidade, nem dos
qualquer coisa phones
ou Ipads, sempre de última geração.
São estes pais mesmo à rasca, que já não
aguentam,
que começam a ter de dizer
"não". É um "não" que
nunca ensinaram os filhos a ouvir, e que
por isso eles
não suportam, nem compreendem, porque
eles têm
direitos, porque eles têm
necessidades, porque eles
têm expectativas, porque lhes disseram
que eles são
muito bons e eles querem, e
querem, querem o que
já ninguém lhes pode dar!
A sociedade colhe assim hoje os frutos
do que
semeou durante pelo menos duas
décadas.
Eis agora uma geração de pais impotentes
e
frustrados.
Eis agora uma geração jovem altamente
qualificada,
que andou muito por escolas e
universidades mas
que estudou pouco e que aprendeu e sabe na
proporção do que estudou.
Uma geração que coleciona diplomas com
que os
país lhes alimenta o ego insuflado, mas
que são
uma ilusão, pois correspondem a pouco
conhecimento teórico e
a duvidosa capacidade
operacional.
Eis uma geração que vai a toda a parte,
mas que
não sabe estar em sítio nenhum. Uma
geração que
tem acessoa informação sem que isso
signifique
que é informada; uma geração dotada de
trôpegas
competências de leitura e interpretação da
realidade em que se insere.
Eis uma geração habituada a comunicar
por
abreviaturas e frustrada por não
poder abreviar
do mesmo modo o caminho para o sucesso.
Uma geração que deseja saltar as etapas
da
Ascensão social à mesma velocidade que
queimou
etapas de crescimento.
Uma geração que distingue mal a diferença
entre
emprego e trabalho, ambicionando mais
aquele do
que este, num tempo em que nem um nem
outro
abundam.
Eis uma geração que, de repente, se
apercebeu que
não manda no mundo como mandou nos pais
e que
agora quer ditar regras à sociedade como
as foi
ditando à escola, alarvemente e sem
maneiras.
Eis uma geração tão habituada ao muito e
ao
Supérfluo
que o pouco não lhe chega e o acessório´
se lhe tornouindispensável.
Eis uma geração consumista, insaciável e
Completamente
desorientada.
Eis uma geração preparadinho para ser
arrastada,
para servir de montada a quem é
exímio na arte de
cavalgar demagogicamente sobre o
desespero
alheio.
Há talento e cultura e capacidade e
competência e
solidariedade e inteligência nesta
geração?
Claro que há. Conheço uns bons e
valentes
punhados de exemplos!
Os jovens que detêm estas capacidades-
características não encaixam no
retrato colectivo,
pouco se identificam com os seus
contemporâneos,
e
nem são esses que se ueixam assim (embora
estejam à rasca, como todos nós).
Chego a ter a impressão de que, se
alguns jovens
Mais inflamados pudessem, atirariam ao
tapete os
Seus contemporâneos que trabalham bem,
os que
são empreendedores, os que
conseguem bons
resultados académicos, porque, que inveja! Que
chatice!,
são betinhos, cromos que só
estorvam os outros
(como se viu no último Prós e Contras) e, oh,
injustiça!, já estão a ser capazes de
abarbatar
bons ordenados e a subir na vida.
E nós, os mais velhos, estaremos em vias
de ser
Caçados à entrada dos nossos locais de
trabalho,
para deixarmos livres os invejados
lugares a que
alguns acham ter direito e que
pelos vistos - e
acreditar no que ultimamente ouvimos
de algumas almas - ocupamos
injusta, imerecida e
indevidamente?!
Novos e velhos, todos estamos à rasca.
Apesar do tom desta minha prosa, o que
eu tenho
mesmo é pena destes jovens.
Tudo o que atrás escrevi serve apenas
para
demonstrar a minha firme convicção de que
a
culpa não é deles.
A culpa de tudo isto é nossa, que não
soubemos
formar nem educar, nem fazer melhor, mas
é uma
culpa que morre solteira, porque é de todos, e
a
sociedade não consegue, não quer, não pode assumi-la.
Curiosamente, não é desta culpa maior
que os
jovens agora nos acusam. como
falhanço