quinta-feira, 4 de julho de 2013

Redação sobre Gramátrica Portuguesa

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele
artigo se encontravam no elevador.
Um substantivo masculino, com aspecto plural e
alguns anos bem vividos pelas preposições da vida.
O artigo, era bem definido, feminino, singular. Ela era
ainda novinha, mas com um maravilhoso predicado
nominal. Era ingénua, silábica, um pouco átona, um
pouco ao contrário dele, que era um sujeito oculto,
com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras
e filmes ortográficos.
O substantivo até gostou daquela situação; os dois,
sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem
ouvir. E sem perder a oportunidade, começou
a insinuar-se, a perguntar, conversar. O artigo feminino
deixou as reticências de lado e permitiu-lhe esse
pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá
dentro.Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom
motivo para provocar alguns sinónimos. Pouco tempo
depois, já estavam bem entre parênteses, quando
o elevador recomeçou a movimentar-se. Só que em
vez de descer, sobe e pára exactamente no
andar do substantivo. 
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou
com ela no seu aposento.
Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio,
ouvindo uma fonética clássica, suave e relaxante.
Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com
gelo para ela.
Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele
recomeçou a insinuar-se. Ela foi deixando, ele foi
usando o seu forte adjunto adverbial, e rapidamente
chegaram a um imperativo.
Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num
transitivo directo.
Começaram a aproximar-se, ela tremendo de
vocabulário e ele sentindo o seu ditongo crescente.
Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que
nem um período simples, passaria entre os dois.
Estavam nessa ênclise quando ela confessou que
ainda era vírgula.
Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe
soletrasse no seu apóstrofo. É claro que ela se
deixou levar por essas palavras, pois estava totalmente
oxítona às vontades dele e foram para o comum
de dois géneros.
Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa.
Entre beijos, carícias, parónimos e substantivos, ele foi
avançando cada vez mais.
Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu
predicativo do objecto, tomava a iniciativa. Estavam assim,
na posição de primeira e segunda pessoas do singular.
Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono,
sentindo o pronome do seu grande travessão forçando
aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo
e entrou logo a dar conjunções e adjectivos aos dois,
os quais se encolheram gramaticalmente, cheios de
preposições, locuções e exclamativas.
Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação
tónica, ou melhor, subtónica, o verbo auxiliar logo
diminuiu os seus advérbios e declarou a sua vontade
de se tornar particípio na história. Os dois olharam-se;
e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo
o edifício.
Que loucura, meu Deus!
Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo
absoluto. Foi-se aproximando dos dois, com aquela
coisa maiúscula, com aquele predicativo do sujeito
apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez
mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao 
seu tritongo e propondo claramente uma mesóclise-a-trois.
Só que, as condições eram estas:
Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria
no gerúndio do substantivo e culminaria com um
complemento verbal no artigo feminino.
O substantivo, vendo que poderia transformar-se num
artigo indefinido depois dessa situação e pensando
no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na
história. Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo,
atirou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez
mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino
colocado em conjunção coordenativa conclusiva.








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