Lígio
era um velho mendigo que perambulava pelas ruas
da
cidade do Funchal.
Ao
seu lado, o fiel escudeiro, um vira-lata, cão, que deu
nome
de Malhado. Ligio nunca pedia dinheiro.
Aceitava
sempre um pão, uma banana, um pedaço de bolo
ou
um almoço feito com sobras de comida dos mais
abastados
desta bonita Urbe Atlântica.
Quando
suas roupas estavam imprestavéis, logo era
socorrido
por alguma alma caridosa
Mudava
sua apresentação e era logo alvo de brincadeiras.
Júlio
era conhecido como um homem bom, que perdera a
razão,
a família, os amigos e até a identidade.
Não
bebia bebidas alcoólicas, estava sempre muito
tranquilo,
mesmo quando não havia recebido nem
um
pouco de comida.
Dizia
sempre que Deus lhe daria um pouco na hora certa e,
sempre
na hora que Deus determinava, alguém lhe
dava
uma porção de alimentos. Lígio agradecia com
reverência
e rogava a Deus pelas pessoas que o
ajudava.
Tudo
que ganhava, dava primeiro para o Malhado, que,
paciente,
comia e ficava a esperar por mais um pouco.
Não
tinha onde dormir, onde anoitecia, lá dormiam.
Quando
chovia, procuravam abrigo de baixo de um
alpendre,tinham
por colchão bocados de cartão
e,
ali o mendigo ficava a meditar, com um olhar
perdido
no horizonte.
Um
dia o Sr Leafar quis saber algo mais da situação deste
mendigo.
daquela vida vegetativa, sem progresso, sem
esperança
e sem um futuro promissor, que tinha por
único
interlocutor o seu cão. Com o pretexto lhe
oferecer
algo para comer foi falar com o velho Lígio.
Iniciou
a conversa falando do Malhado, perguntei pela idade
dele,
o que Lígio, não sabia.
Dizia
não ter idéia, porque se encontraram um certo dia
quando
ambos andavam pelas ruas da cidade.
A amizade entre eles começara com um pedaço de pão,
ele
parecia estar faminto e eu lhe ofereci um pouco
do
meu almoço e ele agradeceu, abanando o rabo,
e
daí, não me largou mais.
Ele
ajuda-me muito e eu retribuo essa ajuda sempre
que
posso.
Curioso perguntou-lhe: Como vocês se ajudam?
Ele
me vigia de noite quando estou dormindo; ninguém pode
chegar
perto que ele late e ataca.
Também
quando ele dorme de dia , eu fico a vigiá-lo
Continuando
a conversa, Leafar perguntou:
ligio,
você tem algum desejo na vida? Sim, respondeu
ele tenho
vontade de comer um cachorro quente,
daqueles
que a Zezé vende ali na esquina.
-
Só isso? Indagou
-
É, no momento é só isso que eu desejo.
-
Pois bem, vou satisfazer agora esse grande desejo.
Saíu
e comprou um cachorro quente para o mendigo. Voltou
e
entregou-lho.
Ele
arregalou os olhos, deu um sorriso, agradeceu a dádiva
e
em
seguida tirou a salsicha, deu para o Malhado, e
comeu
o pão com os temperos.
Leafar
não entendeu aquele gesto do mendigo, pois
imaginava
ser a salsicha o melhor pedaço,
não se conteve e
perguntou-lhe
intrigado:
Por
que você deu para o Malhado, logo a salsicha?
Ele
com a boca cheia respondeu:
Para
o melhor amigo, o melhor pedaço!
E
continuou comendo, alegre e satisfeito. Despediu se do
Lígio,
passei a mão pelo Malhado e sai pensando...
Aprendi
como é bom ter amigos.
Pessoas
em que possamos confiar.
Por
outro lado, é bom ser amigo de alguém e ter a
satisfação
de
ser reconhecido como tal.
Jamais
esquecerei a sabedoria daquele mendigo:
PARA
O MELHOR AMIGO O MELHOR PEDAÇO"
Será
muito imitar Lígio?...
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