domingo, 1 de dezembro de 2013

Portugal que futuro


Jovem da terceira idade, filho de gente humilde. Filho da
aldeia. rurícola. Desde criança, depois de
fazer a 4ª Classe que era o mais alto grau de ensino
na região, trabalhei no campo cavar, ceifar, etc. comi
com as mãos sujas quando trabalhava no campo,
bebi da água que nascia no chão e nunca tive vergonha.
Na aldeia era assim o nosso viver com condições
rudementares. Não havia ergófilos ,toda a gente
tinha que trabalhar para a sua subsistência.
Cresci numa aldeia onde havia gente trabalhadora.
Cresci rodeado de aldeias sem saneamento básico,
sem água, sem luz, sem estradas e com uma oferta
de trabalho muito árduo e feroz e mal muito mal
pago!
Cresci numa aldeia com valores, com gente que se
olha nos olhos, com gente solidária, quase toda do
mesmo nível, com família ali ao lado.
Cresci que com os que trabalharam. Alguns dos mais
ricos conseguiram estudar, à custa de apoios do
Governo.
Eu  continuei a trabalhar, contribui para que
eles pudessem estudar e a nada recebi por produzir.
Cresci a ouvir dizer que éramos um País em Vias de
Desenvolvimento e... de repente éramos já um País
Desenvolvido, que depois de entrarmos para a União
Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" e que
passamos de pobretanas a ricos " à fartazana".
Cresci assim, sem nada e com tudo.
E agora, o que temos nós?
Um país com duas imagens.
A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e
mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde
tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
E a do interior do país, território desertificado.
Os camponeses tornaram urbícolas ou emigraram
porque se saturam com os trabalhos agrícolas, que
nunca foram dignificados. Perante tais condições o
interior do país está envelhecido, abandonado,
improdutivo, esquecido e quase pisado. Tornou-se
um país de vícios.
foram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores.
Não interessa a tua história, interessa o lugar que
ocupas.
Não interessa o que defendes, interessa o que
prometes.
Não interessa como chegaste lá, mas sim o que
representas lá. Não interessa o quanto produziste,
interessa o que conseguiste. Não interessa o meio
 para atingir o fim. Não interessa o meu empenho,
 interessa oque obtenho. 
Não interessa que critiquem os políticos,
interessa é estar lá. Não interessa a qualidade do
ensino, mas que o meu filho esteja na universidade.
Não interessa saber que as autarquias tenham 
gente a mais, interessa é que eu pertença aos 
quadros.
 Não interessa ter políticos que não passem primeiro
 pelo mundo do trabalho,interessa é estar lá.
Um país sem educação.
Quem semeia ventos colhe tempestades.
Numa época em que a sociedade global apresenta 
níveis de exigência altamente sofisticados, em 
Portugal a educação passou a ser um circo. Não se
 podem reprovar meninos mimados. Não se pode
 chumbar os malcriados.
Os alunos podem bater nos professores e estes nem a
voz podem levantar. Entrar na universidade passou a
ser obrigatório por causa das estatísticas.Quando os
professores saem com os alunos são eles que mandam
nos professores.
Ser doutor, afinal, tornou-se coisa banal.
Um país que abandonou a produção endógena e refere
comer produtos exógenos.
Um país rico em solo, em clima e em tradições
 agrícolas que abandonou a sua história.
Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como 
se o afamado portátil fosse a salvação do país. Um 
país que pensa que turismo no Algarve(com boas 
praias e condições para a talassoterapia) que dá 
dinheiro para todos.
Um país que abandonou a pecuária, a pesca e a
agricultura. Que pisa quem ainda teima em produzir 
e destaca quem apenas usa gravata. Um país que 
proibiu a produção de Queijo da Serra artesanal na 
década de 90 e que agora dá prémios ao melhor 
queijo regional.
Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que
esquece que tem cabrito de excelência, carne 
mirandesa maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, 
Ginginha deliciosa,Pastel de Tentugal tentador, 
Bolo Rei português, Vinho da Madeira, Vinho Verde, 
lacticínios dos Açores, o melhor azeite de Vila Flor
 (Trás-os Montes) e de outras regiões para vender.
E tanto, tanto mais... que sai da terra e da nossa
história.
Um país sem gente e a perder a alma lusa.

Um país que investiu forte na formação de um povo,
em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais,
mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados,
em gestores, economistas, cursos profissionais,
em novas tecnologias e em tudo o mais, e que agora
os jovens formados têm que emigrar!
Um país que pôs grandes limites às entradas para as
faculdades de medicina, e agora, contrata muitos
médicos de outros países e muitos deles vêm de
países considerados do terceiros mundo, onde as
exigências técnicas em medicina são muito inferiores
às nossas.
Um país que está desertificado e sem gente jovem,
mas com tanta gente velha e sábia que não tem a
quem passar o testemunho. Um país com jovens
empreendedores que desejam ficar mas são
obrigados a partir. Um país com tanto para dar,
mas com o barco da partida a abarrotar. Um país
sem alma, sem motivação e sem alegria. Um país que
sempre foi mal gerido.
Ainda vale a pena acreditar?
Vale. Se formos capazes de participar, congregar
novos ideais sociais e de mudar.
Porquê acreditar?
Porque oitocentos anos de história, construída a pulso,
não se destroem em 40 anos. Porque o solo continua
fértil. Portugal é o país da Europa que tem mais o mar
que é muito nosso!
O sol continua a brilhar e a nossa alma, essa continua
pura e lusitana e cada vez mais fácil de amar.

2 comentários:

  1. Porra que fiquei sem fôlego para ler tudo até ao fim!
    Mas gostei... e muito!

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  2. Sem os nossos jovens não consigo vislumbrar qq futuro para Portugal. Nomeadamente, um Portugal com portugueses...
    Gostei de o ler, Rafael.

    Saudações cordiais

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