quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Tenho que aceitar tudo isto

Eu tenho que aceitar tudo aquilo que chamo de
minhas casas e meus bens” são tectos e coisas
temporários que, mais dia menos dia, serão o
abrigo terreno de outras famílias e usarão os 
meus bens que tanto economizei para os adquirir.
Eu tenho que aceitar que o meu apego às coisas só
antecipava ainda mais a minha partida na horizontal
para a Cidade Necrópole.
Eu tenho que aceitar, que eu vim a este mundo, para
fazer algo por ele, para tentar dar-lhe o melhor de
mim, se possível deixar rastos positivos de minha da
passagem e, em dado momento, partir sem levar
remorsos.
Eu tenho que aceitar, que o meu corpo nunca será
imortal, que ele envelhecerá e, um dia, se acabará.
Eu tenho que aceitar que os meus pais não duraram
para sempre e que meu filho e meus netos, pouco a
pouco, escolherão os seus caminhos e prosseguirão
a sua vida sem a minha ajuda.
Eu tenho que aceitar que eles não são meus, como eu
supunha, e que a liberdade de ir e vir é um direito
deles também.
Eu tenho que aceitar que tudo que tenho foi-me
confiado por empréstimo, que nada me pertence e
que é tão fugaz quão fugaz é a minha própria
existência na TERRA.
Eu tenho que aceitar que os bens ficam para uso dos
meus familiares e de outras pessoas, quando eu já não
estiver por aqui.
Eu tenho que aceitar que os meus animais de estimação,
as árvores que eu plantei,os livros que escrevi, que
não me pertencem!
É muito difícil, mas eu tenho que aceitar.
Eu tenho que aceitar as minhas fragilidades, os meus
limites, a minha condição de ser mortal, de ser atingível,
e perecível.
Eu tenho que aceitar que a VIDA continuará com ou sem
mim e que o mundo e meus familiares em pouco tempo
me esquecerão.
Eu já rendi-me à evidência.Eu tenho que aceitar tudo isto.
Aceito para deixar de sofrer, para lançar fora o meu
orgulho, a minha prepotência, ignorância e para voltar
à simplicidade da Natureza, a qual trata a todos da
mesma maneira, sem favoritismo.
Humildemente, eu vos confesso que foi preciso fazer
cessar algumas guerras dentro de mim, para aceitar
a realidade do nascer e perecer. Nasci nu e partirei
vestido. Só vim ganhar o fato!...


1 comentário:

  1. Então acertei ao escolher uma profissão ligada à confecção de fatos.
    Há sempre um cliente na fila!

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