Jovem da terceira idade, filho de gente humilde. Filho da
aldeia, rurícola desde criança, depois de ter feito
a 4ª Classe (ensino primário) que era o mais alto
grau de ensino naquela região. Trabalhou no campo
desde os onze anos até aos vinte e um anos: cavar,
ceifar,podar, plantar árvores, etc. Comeu com as mãos
sujas, quando não havia água por perto, bebeu da água
que nascia no chão e muitas vezes da chuva. Nunca
reivindicou nada nem tem vergonha da vida difícil que
teve sem quaisquer direitos.
Na aldeia era assim um viver plural com condições
rudimentares. Não havia ergófilos ,toda a gente
tinha que bulir para a sua subsistência, até alguns
ciganos residentes tinham que trabalhar.
Os habitantes da sua aldeia e de todas as aldeias
da região, toda a gente trabalhava e vivia do que
produzia no campo.
todas essas aldeias não tinham saneamento básico,
sem água canalizada, sem luz, sem estradas e com uma
oferta de trabalho muito árduo e feroz e mal muito
mal pago!
Fez-se homem nessa aldeia com valores, com gente que
se olhava nos olhos, com gente solidária, quase toda do
mesmo nível social, com família ali ao lado a trabalhar.
Cresceu que com os que trabalhavam, alguns dos mais
ricos conseguiram estudar, à custa de apoios do
Governo e do seu trabalho dos pobres.
Assim, o Leafar no seu trabalho agrícola, contribuiu
para que alguns dos afortunados em termos de
propriedades pudessem estudar e a nada recebeu
por produzir para eles.
Mais tarde ouvia dizer que éramos um País em Vias de
desenvolvimento e... de repente éramos já um País
desenvolvido. Que depois de entrarmos para a União
Europeia o dinheiro tinha chegado a "rodos" mas não
foi para todos! dizia-se que passámos de pobretanas
a ricos " à fartazana".
Viveu assim, sem nada e como se tivesse tudo!
-E agora, o que temos nós no território luso?
-Um país com duas imagens.
A de Lisboa: cidade grandiosa, moderna, com tudo e
mais alguma coisa, o lugar onde tudo se decide e onde
tudo se divide, cidade com passado, presente e futuro.
E a do interior do país, território desertificado.
Os camponeses tornaram-se urbícolas ou emigraram
porque se saturam com os trabalhos agrícolas,que
nunca foram dignificados! Os governos subsidiam
festas,espectáculos,jogos,fundações,etc. Que em
termos reais nada produzem, apenas criam empregos
para as suas proles amigos e afilhados. E para
agricultura onde tudo se cria para alimentação,
não havia qualquer subsidio.
Perante tais condições o interior do país está
envelheceu, abandonado,improdutivo, esquecido e
quase pisado!
Tornou-se um país mais de vícios sem ofícios rentáveis.
Foram-se os valores, sobrepuseram-se os doutores.
-Não interessa a tua história, interessa o lugar que
ocupas.
-Não interessa o que defendes, interessa o que
prometes e pretendes.
-Não interessa como chegaste lá, mas sim o que
representas lá.
-Não interessa o quanto produziste,interessa o que
conseguiste.
-Não interessa o meio para atingir o fim.
-Não interessa o meu empenho, interessa o que obtenho.
-Não interessa que critiquem os políticos,interessa é
estar lá.
-Não interessa a qualidade do ensino, mas que o meu
filho esteja na universidade.
-Não interessa saber que as autarquias tenham gente a
mais, interessa é que eu pertença aos quadros.
-Não interessa ter políticos que passem primeiro pelo
mundo do trabalho, para saberem como gerir bem o país e
conhecerem o que é trabalho, só interessa é estar lá.
-Um país sem educação,quem semeia ventos colhe
tempestades.
Numa época em que a sociedade global apresenta níveis
de exigência altamente sofisticados, em Portugal a
educação passou a ser um circo. Não se podem reprovar
meninos mimados. Não se pode chumbar os malcriados.
Os alunos podem bater nos professores e estes nem a
voz podem levantar. Entrar na universidade passou a ser
obrigatório por causa das estatísticas. Os professores
saem com os alunos e os alunos mandam nos
professores. Ser doutor, afinal, tornou-se coisa banal.
Um país que abandonou a produção endógena.
Um país rico em solo, em clima e em tradições agrícolas
que abandonou a sua produção.
Agora o que conta é ter serviços sofisticados, como se
o afamado portátil fosse a salvação do país. Um país
que pensa que turismo no Algarve (com boas condições
para a talassoterapia) que daria dinheiro para todos.
Um país que pagou para abandonar a pecuária, a pesca
e a agricultura.
Que pisa quem ainda teima com muito sacrifício produzir
e que destaca quem apenas usa gravata.
Um país que proibiu a produção de Queijo da Serra
Artesanal na década de 90 e que agora dá prémios ao
melhor queijo regional.
Um país que diz ser o do Pastel de Belém, mas que
esquece que tem cabrito de excelência, carne mirandesa
maravilhosa, Vinho do Porto fabuloso, Ginginha deliciosa,
Pastel de Tentugal tentador, Bolo Rei português, Vinho
do Porto e muito boas castas de vinhos. O da Madeira,
O Vinho Verde, lacticínios dos Açores, o melhor azeite
do mundo, que é o da região do Nordeste Transmontano
( Vila Flor) e de outras regiões por todo o país.
E tanto, tanto mais... que poderia sair do nosso solo.
Um país sem gente e a perder a alma lusa.
Um país que investiu forte na formação de um povo,
em engenharias florestais, zoo técnicas, ambientais,
mecânicas, civis, em arquitectos, em advogados,
em gestores, economistas, grandes técnicos, etc.
Em cursos profissionais, em novas tecnologias e em
tudo o mais, e que agora os jovens formados têm
que emigrar!
Um país que pôs grandes limites às entradas para as
faculdades de medicina, e agora, contrata muitos
médicos de outros países e muitos deles vêm de
países considerados do terceiros mundo, onde as
exigências técnicas em medicina são muito inferiores
às nossas! E temos tantos jovens com vocação para a
medicina, mas não podem entrar porque o número de
vagas continua escasso.Os plutocratas da medicina
e outros quejandos impuseram estes limites. Desta
forma, acautelaram os seus próprios interesses!...
Um país que está desertificado e sem gente jovem,
mas com tanta gente velha e sábia que não tem a
quem passar o testemunho do saber produzir sabedoria.
Um país com jovens empreendedores que desejam
ficar mas são obrigados a partir. Um país com tanto
para dar,mas com os aviões da partida a abarrotar.
Um país sem alma, sem motivação e sem alegria.
Um país que sempre foi mal gerido.
-Ainda vale a pena acreditar?
-Vale! Se formos capazes de participar, congregar
esforços com novos ideais e sociais de mudança.
-Porquê acreditar?
-Porque oitocentos anos de história, construída a pulso,
não se destroem em 40 anos. Porque o solo continua
fértil. Portugal é o país da Europa que tem mais mar
que é muito nosso.
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