Um certo dia muito chuvoso, quando regressava a Lisboa depois de ter feito uma visita aos meus Irmãos E.J.C. S. e A.H.M.S. que residem respectivamente no Porto e Ermesinde. Logo que cheguei a Vila Nova de Gaia, resolvi meter gasóleo na minha viatura na primeira bomba que encontrei.
Parei para abastecer e logo veio até a mim um indivíduo com um ar de grande senhor e com uma aparência de pessoa de muita dignidade, a pedir-me boleia para a Capital. Eu tinha dito ao empregado da Gasolineira que ia para Lisboa. Então ele aproveitou-se logo da situação.
Motivo imprevisto, disse-me que tinha feito confusão com o horário do comboio e, mais grave ainda, ele necessitava de estar em Lisboa uma hora depois da chegada do comboio que tinha perdido devido a compromissos inadiáveis.
Era um indivíduo que aparentemente mereceu-me toda a confiança: um senhor alto e esguio, com aspecto de pessoa educada e óculos escuros. Vestia uma gabardina de bom corte, camisa engomada, tinha um alfinete com uma pequena medalha em ouro a ilustrar bem o nó da gravata. Quando lhe permiti que se sentasse ao meu lado ele disse:
”Queira desculpar o abuso”.
Logo que começámos a viagem falou-me do Porto, cidade que conhecia muito bem pelo direito e pelo avesso. Disse-me que negociava em quadros e pinturas, modéstia à parte, que no Porto tinha feito bons negócios. Que também tinham uma certa predilecção pelas feiras e romarias das Vilas nortenhas onde também faziam bons negócios especialmente em Agosto com a chegada de férias dos emigrantes especialemente da Europa.
Não havia dúvida que de trás daqueles óculos escuros o homem falava com claridade num português rebuscado e respeitoso, fraseado com expressões de pessoa muito educada: “com a sua Licença”, “seja permitida a expressão”, etc. Fez todo o possível para demonstrar que era um respeitável cavalheiro e bom companheiro de viagem para aliviar a monotonia desse dia que durante a viagem choveu copiosamente e da distância.
Dez quilómetros antes de chegarmos a Coimbra, a chuva parou de repente para azar meu. Pois, estava cansado de vir tão devagar devido à dita chuva, pisei mais a fundo o acelerador e logo numa curva traiçoeira um polícia de trânsito mandou-me parar por causa do excesso de velocidade. Multa e Carta apreendida em nome de dura "lex sed lex". O que melhor sabem fazer estes castigadores aos malfadados das quatro rodas! Os proprietários dos automoveis são hodiernamente, a grande fonte de receita através de impostos e multas, que entra nos cofres do Estado e talvez também os policias beneficiem com isso, pelo que se depreende pela forma como actuam estes caçadores de multas!
O meu companheiro de circunstância, movido por um irreprimível impulso de solidariedade, saiu do carro e veio em minha defesa. Apelou à boa-vontade do senhor agente, lembrando as urgências de certos trabalhos, o nervosismo do mau tempo, que em cada um de nós causa, etc. Mas o guarda não desarmou e continuou a preencher a contrafé com a arrogância de quem está por cima das almas e das tempestades. Mas o meu defensor é que não desistia, enquanto o polícia anotava mesmo depois de já ter recolhido a minha carta de condução e o bloco dos registos das multas, continuou com as suas alegações sentimentais num entusiasmo de gestos e palavras agarrando o braço ao polícia para o despertar da sua rígida inclemência. O polícia repelia-o, mas ele aproximava-se de novo dele e mais outra vez era repelido. Até que neste vai-e-vem o polícia quase já zangado mandou-nos de imediatamente seguir viagem antes que perdesse a paciência.
Entretanto, o meu companheiro de viagem dissera ao polícia que íamos primeiro a Coimbra, onde tinha muitos assuntos a tratar. Durante a viagem não me apercebi porque a razão ele mentiu ao polícia, em relação ao nosso itinerário.
Porem, antes de entrarmos em Coimbra pediu-me encarecidamente que seguisse pela auto-estrada, para que cedesse ao seu pedido, meteu-me na mão vinte euros a fim de pagar a portagem, alegando que queria recuperar o tempo que tínhamos perdido com o malvado polícia para chegarmos à hora prevista a Lisboa.
Em face disso, seguimos pela auto-estrada durante o percurso de Coimbra a Lisboa, o homem de vez em quando esticava o pescoço para o espelho e fingia que acertava a gravata a ganhar tempo para se certificar se vinha alguém da polícia atrás de nós. Sempre de óculos na mão olhando para o retrovisor e a citar exemplos da corrupção policial e dos guardas prisionais, etc. Que sabia de muitos casos de agentes corruptos, que podia afirmar isso com conhecimento de causa.
Deixei-o a entrada de Lisboa, perto aeroporto. Chovia outra vez, mas agora uma chuva miudinha de “molho tolos”. O meu companheiro de viagem ao despedir-se de mim, pôs outra vez os óculos escuros e, quando já estava fora do meu carro entregou-me de fugida um molho de papéis que tirou do bolso da gabardina. Papeis? Olhei e nem acreditei! Naquele molho estava a minha carta de condução e o bloco de todas as contrafés que o guarda tinha autuado naquele dia!
Em conclusão, ele conseguiu roubar o próprio polícia, foi um hábil e distinto” pickpocket” roubou-lhe a carteira, o dinheiro dele próprio e ainda todo o dinheiro das multas que foram pagas ”in loco”. A vítima teria sido eu, mas com o polícia se intrometeu na nossa viagem azar o dele!
Eu por minha vez, destrui todos os registos das multas e meti numa Caixa dos Correio duas cartas de condução que também tinham sido apreendidas naquele dia, para ficar incólume. Nunca mais soube de nada! Para mim foi um bom vigarista, mas espero que não o volte a encontrar, porque na próxima vez serei eu a vítima.
É preciso estar alerta respeitante às boleias a pessoas desconhecidas, é melhor irmos sós que mal acompanhados.
É uma história dos diabos.
ResponderEliminarE faz sentido.