domingo, 7 de julho de 2024

Quando o que a gente quer dizer não

tem palavras.

 Simplesmente elas (ainda) não existem.

Sempre penso nas palavras, no seu

sentido,quando e como dizê-las, embora

 às vezes, admito, escapem sem querer.

Penso no sentido que elas, uma ou outra, 

deveriam ter também, mais variado, rico.

Mas há horas que elas não existem, em

nenhum idioma, para exprimir o amor e

 o sentimento que gostaríamos de deixar

 claro.

Nem para o bem, principalmente. Já

 passou por isso?

Há horas em que elas não saem. Ficam

Na garganta.

 Você quer dizer e não sabe o quê.

 A boca até seca. Queria tanto poder usar

o poder das palavras, como nos filmes,

 nos contos, nas mágicas. Adoraria ter a

força do pensamento e a capacidade de

dar a elas uma espécie de vida e energia

de tal forma que expressariam quase

fisicamente o que quero dizer – sei lá, iria

até lá e abraçaria mesmo a pessoa, daria

 mil beijos, sopraria a saudade que tenho,

 o amor de devoção, o querer bem tudo o

 que se mantém calado na alma. Elas

viajaram todas as distâncias, chegariam

suaves aos ouvidos que seriam o meu

 alvo.

 Confortaram. Fariam rir ou ao menos

sorrir. Aqueceram o coração e fariam

bem chegando

 ao corpo e à alma. Até não seriam

palavras, mas um sopro trazido e

levado pelo vento.

Só que há horas em que o que a gente

quer dizer não tem palavras, repito.

 Nem para falar, nem para escrever.

 Muito menos para telefonar, mandar

e-mail, carta ou cartão postal, telefonar, 

mensagem direta ou indireta, gravação

em secretária eletrônica, faixa de rua,

 panfleto ou pichação no muro. Nada.

Não foram inventadas, ou não foram

escritas, nem estão em dicionários.

 Não existem. Sairiam murmúrios tão

 ininteligíveis como os bebês fazem.

Estou com esse problema de forma

Muito especial nesse momento, e sem

saber como lidar e trabalhar com isso,

 confuso. Me sentindo desse tamaninho

diante de como o mundo pode ser tão

cruel com pessoas boas e generosas,

afetadas de repente por notícias e

diagnósticos que as viram de ponta

cabeça, assustadoras, da Natureza,

sim, e tão fortes como tsunamis e

terremotos.

 E que nos viram juntos, aflitos que

 ficamos quando há perspetiva delas

 se afastarem, nos largarem,

nos deixando aqui, desamparados e

 incapazes de fazer qualquer coisa.

Todos nós estamos sujeitos a passar

 por isso.

 A ficar mudos quando mais

precisamos falar, influenciar, agir,

transformar, protestar, responder.

É daí que acredito ser importante

falar do quanto é difícil para quem

está por perto toda essa loucura que

 passa quando algo, de alguém, vira

parte da gente também.

 Está dando para compreender?

É mais do que consolar, mais do que

Buscar ajudar no que pode, mesmo

que isso seja o seu próprio silêncio,

orações de toda sorte, seu próprio

 sofrimento.

Volto a dizer que é indizível.

Sempre ouvi falar que as palavras ditas

são como flechas, que uma vez lançadas

não têm mais volta porque criam vida e

 energia, passam a integrar o espaço. Há

 quem acredite que as acharemos em

outras dimensões. E quando elas são

apenas pensamentos,

terão esse mesmo poder? Tomara

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