Quando o que a gente quer dizer não
tem palavras.
Simplesmente elas (ainda) não existem.
Sempre penso nas palavras, no seu
sentido,quando e como dizê-las, embora
às vezes, admito,
escapem sem querer.
Penso no sentido que elas, uma ou outra,
deveriam ter
também, mais variado, rico.
Mas há horas que elas não existem, em
nenhum idioma, para exprimir o amor e
o sentimento
que gostaríamos de deixar
claro.
Nem para o bem, principalmente. Já
passou por
isso?
Há horas em que elas não saem. Ficam
Na garganta.
Você quer dizer
e não sabe o quê.
A boca até
seca. Queria tanto poder usar
o poder das palavras, como nos filmes,
nos contos, nas
mágicas. Adoraria ter a
força do pensamento e a capacidade de
dar a elas uma espécie de vida e energia
de tal forma que expressariam quase
fisicamente o que quero dizer – sei lá, iria
até lá e abraçaria mesmo a pessoa, daria
mil beijos,
sopraria a saudade que tenho,
o amor de
devoção, o querer bem tudo o
que se mantém
calado na alma. Elas
viajaram todas as distâncias, chegariam
suaves aos ouvidos que seriam o meu
alvo.
Confortaram.
Fariam rir ou ao menos
sorrir. Aqueceram o coração e fariam
bem chegando
ao corpo e à
alma. Até não seriam
palavras, mas um sopro trazido e
levado pelo vento.
Só que há horas em que o que a gente
quer dizer não tem palavras, repito.
Nem para falar,
nem para escrever.
Muito menos
para telefonar, mandar
e-mail, carta ou cartão postal, telefonar,
mensagem
direta ou indireta, gravação
em secretária eletrônica, faixa de rua,
panfleto ou pichação
no muro. Nada.
Não foram inventadas, ou não foram
escritas, nem estão em dicionários.
Não existem. Sairiam murmúrios tão
ininteligíveis como os bebês fazem.
Estou com esse problema de forma
Muito especial nesse momento, e sem
saber como lidar e trabalhar com isso,
confuso. Me sentindo
desse tamaninho
diante de como o mundo pode ser tão
cruel com pessoas boas e generosas,
afetadas de repente por notícias e
diagnósticos que as viram de ponta
cabeça, assustadoras, da Natureza,
sim, e tão fortes como tsunamis e
terremotos.
E que nos viram
juntos, aflitos que
ficamos quando
há perspetiva delas
se afastarem,
nos largarem,
nos deixando aqui, desamparados e
incapazes de
fazer qualquer coisa.
Todos nós estamos sujeitos a passar
por isso.
A ficar mudos
quando mais
precisamos falar, influenciar, agir,
transformar, protestar, responder.
É daí que acredito ser importante
falar do quanto é difícil para quem
está por perto toda essa loucura que
passa quando algo, de
alguém, vira
parte da gente também.
Está dando para
compreender?
É mais do que consolar, mais do que
Buscar ajudar no que pode, mesmo
que isso seja o seu próprio silêncio,
orações de toda sorte, seu próprio
sofrimento.
Volto a dizer que é indizível.
Sempre ouvi falar que as palavras ditas
são como flechas, que uma vez lançadas
não têm mais volta porque criam vida e
energia, passam
a integrar o espaço. Há
quem acredite
que as acharemos em
outras dimensões. E quando elas são
apenas pensamentos,
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