domingo, 8 de novembro de 2015

A lenda dos tripeiros


No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os 
barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista 
de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos. A razão deste 
empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e
 variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar
 a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era 
para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro. Mas
 havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a 
conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se 
casarem...
Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto 
para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço 
despendido, achou que se poderia fazer ainda mais. E o Infante 
confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as 
verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem: a conquista 
de Ceuta. Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, 
ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o infante o mesmo que
 tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela: 
dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas. Este sacrifício
 tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante 
D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma 
verdadeira honra para o povo do Porto. A História de Portugal registou 
mais este sacrifício invulgar dos heróicos "tripeiros" que contribuiu para 
que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, 
partisse a caminho da conquista de Ceuta.


Sem comentários:

Enviar um comentário