sábado, 8 de junho de 2019

Mais algo sobre os pleonasmos

Quase todos os portugueses sofrem de pleonasmite,
uma doença 
congénita para a qual não se conhecem, nem vacinas
 nem antibióticos.
 Não tem cura mas também não mata. Mas, quando
não é controlada, chateia (e bastante) quem convive com o
 paciente.
O sintoma desta doença é a verbalização de pleonasmos
 (ou redundâncias) que, com o objectivo de reforçar uma
 ideia, acabam por lhe conferir um  sentido quase sempre
 patético.
Definição confusa? Aqui vão quatro exemplos óbvios.
“Subir para cima”, “descer para baixo”, “entrar para dentro” 
 e “sair para fora”.
Já se reconhece como paciente de pleonasmite? Ou ainda
está em fase de negação? Olhe que há muita gente que leva
 uma vida a pleonasmar sem se aperceber que pleonasma a
toda a hora.
Vai dizer-me que nunca “
recordou o passado”? Ou que nunca
 está atento aos “pequenos detalhes”? E que nunca partiu uma
 laranja em “metades iguais”? Ou que nunca deu os “sentidos
pêsames” à “viúva do falecido”?
Atenção que o que estou a dizer não é apenas a minha “
opinião
 pessoal”.
Baseio-me em  “
factos reais” para lhe dar este “aviso prévio” 
de que esta “doença má” atinge “todos sem excepção”.
O contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado. Na rua, há
lojas, que o aliciam com “ofertas gratuitas”.
E agências de viagens que anunciam férias em “cidades do
mundo”.
 No local de trabalho, o seu chefe pede-lhe um “acabamento
 finalnaquele projecto. Tudo para evitar “surpresas inesperadas
 por parte do cliente.
E quando tem uma discussão mais acesa com a sua cara-metade,
diga lá que às vezes não tem vontade de “gritar alto”:
"Cala a boca!”?
O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao cinema ver
 aquele filme que “estreia pela primeira vez” em Portugal.
E se pensa que, por estar fechado em casa ficará a salvo da
 pleonasmite, 
tenho más notícias para si. Porque a televisão é, de“certeza
absoluta”, a “principal protagonista” da propagação deste
 vírus.
Logo à noite, experimente ligar o telejornal e “
verá com os
seus próprios olhos” a pleonasmite em directo no pequeno
 ecrã.
 Um jornalista vai dizer que a floresta “arde em chamas”.
 Um treinador de futebol queixar-se-á dos“elos de ligação” 
entre a defesa e o ataque. Um “governante” dirá que gere
 bem o erário público”. Um ministro anunciará o reforço 
das relações bilaterais entre dois países”. E um qualquer “
político da nação” vai pedir um “consenso geral” para 
sairmos juntos desta crise.
E por falar em crise! Quer apostar que a próxima
 manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”?
Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não causa~
 “dores desconfortáveis” nem “hemorragias de sangue”.
E por isso podemos “viver a vida” com um “sorriso nos
 lábios”.
Porque alguém a pleonasmar, está nas suas sete quintas. 
Ou, em termos mais técnicos, no seu “habitat natural”.
Mas como lhe disse no início, o descontrolo da pleonasmite
 pode ser chato para os que o rodeiam, e nocivo para a sua
 reputação.
Os outros podem vê-lo como um redundante que só diz
banalidades.
Por isso, tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo.
Vai ver que não custa nada. mE “já agora” siga o meu
conselho: não “adie para depois” e comece ainda hoje a
encarar de frente” a pleonasmite!
Ou então esqueça este texto. Porque afinal de contas eu,
ou “ambos os dois”, podemos estar só “malucos da cabeça”.




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