sábado, 5 de outubro de 2019

O pleonasmo

Vai dizer-me que nunca está atento aos “pequenos
 detalhes”? E que nunca partiu uma laranja em
 “metades iguais”? Ou que nunca deu os  “sentidos
pêsames”  à “viúva do falecido”?

Atenção que o que estou a dizer não é apenas a

 minha “opinião pessoal”. Baseio-me em  “factos
reais” para lhe dar este “aviso prévio” de que esta
 “doença má” atinge “todos sem excepção”.

O contágio da pleonasmite ocorre em qualquer lado.

 Na rua, há lojas que o aliciam com “ofertas gratuitas”.
 E agências de viagens que anunciam férias em
 “cidades do mundo”. No local de trabalho, o seu chefe
 pede-lhe um “acabamento final” naquele projecto.
Tudo para evitar “surpresas inesperadas” por parte
 do cliente. E quando tem uma discussão mais acesa
com a sua cara-metade, diga lá que às vezes não tem
vontade de “gritar alto”: “Cala a boca!”?
O que vale é que depois fazem as pazes e vão ao
cinema ver aquele filme que “estreia pela primeira vez”
 em Portugal.

E se pensa que por estar fechado em casa ficará a

salvo da pleonasmite, tenho más notícias para si.
Porque a televisão é, de“certeza absoluta”, a “principal
 protagonista” da propagação deste vírus.

Logo à noite, experimente ligar o telejornal e “verá

 com os seus próprios olhos” a pleonasmite em
directo no pequeno ecrã. Um jornalista vai dizer que
 a floresta “arde em chamas”. Um treinador de futebol
 queixar-se-á dos “elos de ligação” entre a defesa e
 o ataque. Um “governante” dirá que gere bem o
“erário público”. Um ministro anunciará o reforço das
 “relações bilaterais entre dois países”. E um qualquer
 “político da nação” vai pedir um “consenso
geral” para sairmos juntos desta crise.

E por falar em crise! Quer apostar que a próxima

 manifestação vai juntar uma “multidão de pessoas”?

Ao contrário de outras doenças, a pleonasmite não

 causa “dores desconfortáveis” nem “hemorragias de
 sangue”. E por isso podemos “viver a vida” com um 
“sorriso nos lábios”. Porque alguém a pleonasmar, 
está nas suas sete quintas. Ou, em termos mais técnicos,
 no seu “habitat natural”.

Mas como lhe disse no início, o descontrolo da
pleonasmite pode ser chato para os que o rodeiam e
 nocivo para a sua reputação. Os outros podem vê-lo
 como um redundante que só diz banalidades. Por isso,
 tente cortar aqui e ali um e outro pleonasmo. Vai ver
 que não custa nada. E “já agora” siga o meu
conselho: não “adie para depois” e comece ainda

 hoje a “encarar de frente” a pleonasmite!

Ou então esqueça este texto. Porque, afinal de contas,

 eu posso estar só “maluco da cabeça”!


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