quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Moeda dos três vinténs

Pela primeira vez, em Portugal, no reinado de D. Pedro II,

cunhou-se a moeda de três vinténs, de prata. E foi sendo

cunhada até ao fim do reinado de D. Miguel que terminou

em 1834 pela convenção de Évora-Monte. Nos reinados

seguintes desapareceu esta simpática moedinha, embora

continuassem em circulação às anteriormente cunhadas.

Esta moeda de prata, pequenina, tem, para os estudiosos

da antropologia cultural, um encanto especial. É que ela

anda ligada uma tradição de séculos e uma expressão

 linguística corrente ainda hoje, embora com significado

 bem específico que todos conhecemos:

aquela já não tem os três vinténs; ou já lhe tiraram os

três vinténs.

Mas, vamos à história: antigamente, as mães que podiam

ofertavam às suas filhas, às vezes logo no dia do nascimento,

uma moedinha de prata, de três vinténs, ou seja de 60 réis a

 que faziam um furinho por onde passavam um fio que

 permitia dependurá-la ao pescoço da menina. Funcionava

 como amuleto para salvaguardar a pureza e a virgindade

daquela jovem que durante toda a vida o usava com orgulho.

 Só com o casamento ela entregava a moedinha ao marido.

 Este, orgulhoso, lha tirava-lha do pescoço para a guardar

religiosamente. Podia então a sociedade afirmar com verdade

que ela já não tinha os três vinténs porque os deu ao marido

 Estava, pois, casada, não era mais uma menina virgem.

No reinado de D. José I, em data não assinalada na cunhagem:

três vinténs de prata. A marca caraterística destas moedas,

como se disse, era o furinho por onde passava o fio que havia

 de as suspender. Todavia, a peça que hoje vos trazemos tem

dois furos, não alinhados, o que, muito provavelmente, significa

 ter servido duas vezes: à mãe e à filha, à avó e à neta...

Talvez que uma importante superstição aconselhasse que o

mesmo furo não devesse servir duas vezes. Bonito, a nosso ver,

 é o estudo da cultura tradicional e popular dos portugueses;

 e esta peça e esta história e tudo o mais que gira à sua volta,

 parecem-nos encantadores.

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