segunda-feira, 8 de junho de 2009

Comezainas de Marinheiros Fuzileiros

No tempo em que os marinheiros andavam fardados pelas ruas da cidade de Lisboa, quando lhes apetecia gozar uns bons momemtos de confraternização fora da sua unidade organizavam uma boa jantarada. Normalmente abancavam num restaurante intitulado de "Farta Brutos", situado ao fundo do Campo Pequeno. As instalações eram modestas, bem ao nivel da magra bolsa do marinheiros, mas as ementas eram nuito saborosas e fartas que sucumbiam, facilmente, frente ao apetite devorador daquela clienta marinhesca. O vinho carrascão abundava, as candeias depois de apagadas eram de imediato acesas.
Havia Marinheiros Fuzileiros de várias procedências: os da província, nados e criados na fartura das aldeias, eram capazes de comer cada um: um prato bem cheio de arroz ou de batatas, um quilo de carne ou um frango inteiro e beber um litro e meio de vinho durante uma refeição.
Estes encaixavam facilmente os todos excessos nestas prolongadas comezanas. Porém outros, com estômagos mais frágeis tendo vivido os regimes delicados e comedidos das cidades, não aguentavam comer tanto, mas tentavam sempre acompanhar os seus camaradas especialmente no que dizia respeito às bebidas alcoólicas de qualquer espécie.
Naquela época os marinheiros não tinham automóvel. O dinheiro escasso proibia esse luxo e até do taxi. O eléctrico ou “on foot” (a pé), era o meio de transporte mais usual para se deslocarem em Lisboa, quando estavam muito distantes da Doca Marinha ou da Casa do Marujo lá pernoitarem, quando perdiam a última Vedeta (Barco tipo Cacilheiro) da uma hora da manhã a qual transportava os marujos de Lisboa para o Corpo de Marinheiros, Base Naval e
Base de Fuzileiros.
Após esta confraternização que terminou já bastante tarde, o grupo de Marinheiros Fuzileiros tomaram o eléctrico que parava próximo do dito restaurante.
Nesta viagem de regresso à Doca da Marinha, um dos Fuzileiros de estômado mais delicado (um dos urbìgenas = que na nasceu na cidade). Talvez, num gesto previdente, foi sentar-se isolado junto de uma janela aberta do respctivo eléctrico.
A marcha veloz deste meio de transporte, aquela hora de pouco trânsito, com poucos passageiros civis, o eléctrico parecia que dançava na sua linha, o que fora o suficiente para abalar as víceras sensíveis do estomago de um Marinheiro Fuzileiro alfacinha.
Num dado momento viram-no debruçado na janela sacudindo vómitos sucessivos numa aflição de quem se desfaz da própria alma, com uma aflição não que dava mostras de abrandar.
Duas das senhoras que viajavam sentadas mais proximo dele, iam seguindo apreensivas as fases daquele incómodo.Viram lhe voar a boina sem regresso pela janela fora, estavam com um olhar piedoso a viver aquele sofrimento alheio. Uma terceira senhora mais nova e mais atrevida tipo bordeleira "que trabalha nos bordéis" disse:
-Coitadinho deste marinheiro de água doce! Até no eléctrico enjoa!
Os seus camaradas intervieram de imediato e disseram:
-Não é do balanço do eléctrico minha senhora é do vinho!
-Então, "que vá beber água ao Rato"!..
Ela como viu que eram marinheiros muito novos, pensou que não sabiam nada desta història que se passou no Largo do Rato em Lisboa entre os marinheiros e a GNR. Estas palavras apoucavam os marinheiros “ Vai beber água ao Rato”. Pois, consta-se que em tempos muito recuados a GNR agrediu alguns marinheiros no Largo do Rato...
Por causa desta frase que disse esta insolente senhora. Dois Marinheiros fuzileiros transmontanos dos mais assomadiços mandaram parar o eléctrico ao Guarda-freio e puseram essa atrevida na rua à força e bem onomasticada obscenamente! Teve que fazer parte dessa viagem a pé aquela hora da noite por causa de ter a lingua comprida!... Tanto pior para ela, porque a partir da uma hora da noite, só havia transportes públicos de hora a hora os chamados electricos dos vadios, que o último era ás quatro da manhã.
Se fosse um homem que tivesse dito aquelas palavras, que eram ofensivas para os marinheiros, teria ficado imobilizado na rua com as costelas amachucadas ou com a cabeça partida.
Os marujos quando se sentiam ofendidos faziam os seus julgamentos sumários in loco.

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